Associação investigada tem repasses suspensos pelo Ministério do Esporte

O Ministério do Esporte decidiu, neste domingo (20), suspender todos os repasses de recursos federais à Associação Moriá. A entidade, que deveria aplicar verbas em um projeto voltado à capacitação de jovens por meio de jogos eletrônicos, está no centro de suspeitas que envolvem inconsistências em sua estrutura e declarações.
A medida preventiva foi tomada mesmo com a natureza obrigatória de execução das emendas de bancada do Distrito Federal, responsáveis por destinar cerca de R$ 53 milhões à associação entre 2023 e 2024. Desse total, R$ 46 milhões viriam diretamente do orçamento da pasta do Esporte.
As irregularidades apontadas envolvem nomeações questionáveis na diretoria da instituição, como a de um motorista no cargo de diretor financeiro e uma esteticista como responsável operacional. Além disso, foi constatado que o endereço oficial informado pela associação se encontrava desocupado.
Projeto gamer sob suspeita
O valor milionário repassado à associação seria utilizado em um projeto que prometia montar 29 salas gamers em espaços educacionais para oferecer formação em jogos como Free Fire e League of Legends a estudantes da rede pública. No entanto, a Secretaria de Educação do Distrito Federal negou ter qualquer parceria aprovada com a entidade.
Outro ponto alarmante diz respeito a um documento apresentado pela própria associação, no qual afirma ter atendido 3,5 milhões de jovens em Anápolis (GO) — número que supera em muitas vezes a população total da cidade. A suposta “capacidade técnica” foi atestada por meio de uma autodeclaração assinada pelo presidente da ONG.
Apesar do alto volume de recursos previstos, o Ministério do Esporte afirma que nenhum valor foi transferido para execução do projeto até o momento, e que as informações prestadas são de inteira responsabilidade da entidade proponente.
Reação institucional
O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal, onde o ministro Flávio Dino solicitou explicações da Advocacia-Geral da União e do Congresso Nacional. Para o magistrado, os indícios de falsidade podem justificar a interrupção definitiva dos repasses públicos à instituição.
Em 30 de dezembro de 2024, a pasta havia firmado um termo de fomento com a Associação Moriá no valor de R$ 37,9 milhões, com assinatura do secretário nacional de Esporte Amador, Paulo Henrique Perna Cordeiro, e do presidente da organização, Gustavo Henrique Fonseca de Deus.
Recursos indicados por parlamentares do DF
O montante de recursos direcionados à Moriá teve origem em indicações de diversos representantes do Distrito Federal:
- Fred Linhares (Republicanos) – R$ 27,6 milhões
- Izalci Lucas (PL) – R$ 15,5 milhões
- Bia Kicis (PL) – R$ 1,5 milhão
- Julio Cesar (Republicanos) – R$ 800 mil
- Paula Belmonte (Cidadania) – R$ 500 mil
A soma dos recursos recebidos por meio de emendas parlamentares de diversas unidades da federação chega a R$ 74,5 milhões, sendo R$ 8 milhões já pagos à entidade até agora.
Enquanto a apuração prossegue, o Ministério do Esporte reforçou que seguirá todos os protocolos de fiscalização e transparência, e que a execução do projeto gamer permanece suspensa até a completa apuração dos fatos.