Professora sofre intolerância religiosa por parte de alunos em escola na Bahia

Uma professora da rede municipal de Camaçari, a 50 quilômetros de Salvador, denunciou ser vítima de intolerância religiosa e agressões em sua escola. Sueli Santana, praticante do candomblé e makota do Terreiro de Lembarocy, relatou episódios de violência e discriminação por parte de três estudantes, integrantes de uma mesma família evangélica, que ingressaram este ano na Escola Municipal Rural Boa União.

Segundo Sueli, o caso começou com insultos verbais e escalou para agressões físicas. Em outubro e novembro, a professora foi apedrejada pelos alunos. “Essas crianças se incomodaram ao me ver em uma sexta-feira com minhas vestes tradicionais do candomblé. Sou makota e sempre assumi minha religiosidade. Vou de branco à escola toda sexta-feira e cubro a cabeça durante rituais”, explicou.

As ofensas incluem termos como “bruxa”, “macumbeira” e “satanás”. Versículos bíblicos escritos no quadro e Bíblias deixadas sobre sua mesa de trabalho também foram relatados. “Eles diziam que a Bíblia estava ali para que Jesus salvasse a minha alma”, completou a professora.

O episódio mais recente envolveu uma das alunas, que declarou que “a única coisa que os negros trouxeram para o Brasil foi a macumba e a maconha”. Além disso, Sueli foi alvo de questionamentos sobre o uso do livro “O ABC Afro Brasileiro”, de Carolina Cunha, que explora a influência africana na cultura brasileira. Mesmo respaldada pela Lei 10.639/2003, que obriga o ensino de história e cultura afro-brasileira, a secretaria de educação suspendeu temporariamente o uso do material até que os pais fossem ouvidos.

Secretaria de Educação e Polícia investigam o caso

A Secretaria Municipal de Educação de Camaçari declarou ter acolhido a professora ao tomar conhecimento do caso em 21 de novembro. Uma sindicância foi aberta para apurar os fatos, e a pasta reafirmou o compromisso com a educação antirracista e o respeito às diferenças.

A Polícia Civil investiga o caso como lesão corporal e injúria, com diligências em andamento conduzidas pela Delegacia Especial de Atendimento à Mulher.

O caso evidencia a urgência de ações concretas para combater a intolerância religiosa e o racismo nas escolas, garantindo um ambiente seguro e inclusivo para todos os educadores e estudantes.

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